A primeira viagem oficial ao Brasil feita na semana passada pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, foi um retumbante sucesso, não apenas porque os brasileiros amam tudo que é estadunidense, mas também, e mais importante, porque Obama é o primeiro presidente americano de ascendência africana. O Brasil é um cadinho de etnias, com um nível muito maior de casamentos inter-raciais do que o dos Estados Unidos. Isto a despeito do fato de que o Brasil foi o último país do Ocidente a abolir a escravidão, em 1888!
Infelizmente, Obama não mencionou sequer uma vez sua raça no Brasil, talvez porque, como este comentador americano escreveu aqui, ele tenha tido medo da reação da direita em seu país, que o acusaria de favorecer americanos “negros” às expensas dos brancos. É triste, de fato, que o presidente tenha se sentido compelido a esconder sua satisfação diante de toda a alegria e orgulho que os brasileiros sentiram ao vê-lo em todos os lugares a que ele compareceu em Brasília e no Rio de Janeiro. No Rio, um empresário de 46 anos disse ao New York Times que Obama era uma “inspiração”.
Até mesmo a presidenta Dilma Rousseff, na aparição conjunta para a imprensa em Brasília no último sábado, mencionou os fatos de que ele era o primeiro presidente americano com ascendência africana e ela, a primeira mulher presidente do Brasil. Rousseff parecia nervosa em sua primeira experiência como anfitriã de um chefe de estado desde que assumiu a presidência em primeiro de Janeiro. Obama, velho profissional, sorriu carinhosamente e acenou para todos. A diferença na linguagem corporal de ambos era perceptível. A primeira-dama Michelle Obama, como de costume, foi notada por suas escolhas de moda por vezes dúbias, como quando saiu do Air Force One na base aérea de Brasília vestindo o que parecia um vestido vermelho e preto de algodão e sem mangas. A impressão era a de que ela iria para um piquenique, ao invés de uma visita oficial! Mais tarde, ela se redimiu ao vestir um tailleur cor de creme para sua visita ao palácio presidencial, tirando depois sua jaqueta para revelar um top de um ombro quando foi assistir a uma apresentação de capoeira realizada por estudantes brasileiros.
O presidente Obama estava distraído pelo início dos ataques aéreos da coalizão à Líbia, que ele anunciou oficialmente em uma transmissão televisiva de Brasília no último sábado. Isto fez com que a maior parte dos jornais brasileiros estampassem como manchete no dia seguinte: “Do Brasil, Obama lança ataque à Líbia”. O que é realmente importante sobre a visita de Obama ao Brasil é que ela marca um novo capítulo nas relações Brasil-Estados Unidos, que haviam atingido seu ponto mais baixo no ano passado, quando o então presidente Luís Inácio Lula da Silva instruiu seu embaixador na ONU a votar contra mais sanções ao Irã. Isto enfureceu os EUA, que já não estavam felizes com o relacionamento próximo de Lula com o presidente Mahmoud Ahmadinejad e seu apoio aos irmãos Castro em Cuba.
A presidente Rousseff começou imediatamente a se distanciar de algumas das políticas de Lula quando, no ano passado, ela criticou publicamente os maus tratos a mulheres no Irã e mandou sinais a Washington de que ela queria um novo início para o relacionamento. Lula foi convidado para o almoço oficial que a presidenta Rousseff ofereceu para Obama no Ministério de Relações Exteriores no último sábado, mas alegou um compromisso e não compareceu, o que foi provavelmente melhor para todos os concernidos. Pois, ainda que existam muitos desacordos entre Brasil e Estados Unidos, especialmente em questões comerciais e tarifárias, ambos os presidentes parecem dispostos a construir um relacionamento mais satisfatório do que aquele legado por seus antecessores.
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