O príncipe Mohammed bin Salman, de somente 30 anos, o segundo príncipe herdeiro, recebe informacoes sobre a campanha militar saudita no Iêmen.
Por Rasheed Abou-Alsamh
Príncipe Mohammed bin Salman, a despeito de sua pouca idade e experiência de governo, conquistou a confiança do rei
O anúncio pela televisão estatal saudita, na madrugada de quinta-feira, 29 de abril, de que o príncipe herdeiro Muqrin bin Abdul Aziz tinha renunciado ao cargo e que o sobrinho do rei Salman bin Abdul Aziz, Mohammed bin Nayef, de 55 anos, tinha sido nomeado para o posto pegou a maioria dos sauditas de surpresa. O rei também determinou que seu filho, o príncipe Mohammed bin Salman, de somente 30 anos, seja o segundo príncipe herdeiro, e anunciou que Adel al Jubeir, o atual embaixador saudita em Washington, vai substituir o veterano ministro das Relações Exteriores Saud al Faisal.
Os sauditas ficaram surpresos porque tantas mudanças importantes nos altos escalões do poder vieram todas de uma só vez, e somente três meses depois de Salman ascender ao trono. Com certeza, isso marca uma mudança geracional em termos dos dirigentes da família real, que, pela primeira vez, veem um neto do rei Abdulaziz ibn Saud, o fundador do reino, na linha direta de sucessão ao trono. Mas o rei Salman tem 79 anos e vários analistas sauditas aplaudiram essas novas nomeações, frisando que isso mostra uma nova etapa de governança com líderes mais jovens e dinâmicos. “Nós não queremos que a Arábia Saudita seja regida por um líder indisposto depois de outro,” disse Jamal Khashoggi, gerente-geral da emissora de televisão Al-Arab, para a agência de notícias Reuters.
Depois de anos de uma política externa extremamente tímida, em parte por causa da idade avançada do rei Abdullah, que morreu em janeiro deste ano aos 90 anos, a Arábia Saudita agora está flexionando seus músculos com sua intervenção militar no Iêmen, que já dura mais de um mês e está sendo chefiada pelo ministro da Defesa, Mohammed bin Salman, o filho favorito do atual rei. Desconhecido do público até pouco tempo, o príncipe Mohammed tem a imensa tarefa de mostrar algum resultado no Iêmen sem matar muitos iemenitas e sem deixar os sauditas serem sugados para uma guerra civil interminável, como a que os Estados Unidos enfrentaram no Vietnã nos anos 1960 e 1970. Os perigos são muitos, e não é fácil, com as constantes críticas histéricas dos iranianos, aliados dos houthis, contra os sauditas. Um bom exemplo aconteceu nesta terça-feira, 28 de abril, quando um avião iraniano tentou aterrissar no aeroporto de Sanaa, a capital do Iêmen. Os sauditas advertiram o piloto a não aterrissar e ordenaram-lhe voltar para o Irã. Mas ele insistiu em tentar aterrissar, dizendo que estava somente entregando bens humanitários. Sem outra escolha, os sauditas bombardearam as pistas de pouso e decolagem do aeroporto para impedir que o avião iraniano aterrissasse. Mas, com pouca explicação para o público por parte dos sauditas para justificar suas ações, os iranianos tomaram a iniciativa de se fazerem de vítimas. Mas um oficial saudita me assegurou que o avião iraniano estava carregado de armamentos para os rebeldes houthis, e que ia levar líderes houthis feridos para tratamento médico no Irã.
Aterrorizados pela violência deflagrada em tantos países vizinhos pelas revoluções da Primavera Árabe, e muito desconfiados de que um Irã sem sanções econômicas poderá aprontar na região se o acordo nuclear com os EUA for finalizado em junho, os sauditas decidiram que já estava mais do que na hora de tomar as rédeas do seu destino e de sua política externa, e tentar intervir em conflitos regionais em favor dos seus interesses estratégicos. Se o Irã pode intervir no Líbano, na Síria e no Iraque, por que a Arábia Saudita não pode também?
“Durante o reinado de Abdullah, nós não tínhamos uma política externa, e somente assistimos aos eventos se desdobrar em frente dos nossos olhos no Iêmen,” disse o sociólogo e comentarista saudita Khalid al Dakhil ao jornal “Wall Street Journal”. Para ele, “os novos dirigentes estão tomando as decisões certas e têm a força de vontade de seguir em frente.”
O príncipe Mohammed bin Salman, a despeito de sua pouca idade e experiência de governo, conquistou a confiança do rei com sua dedicação ao trabalho e determinação de ter resultados rápidos. “O príncipe é muito dedicado e metódico,” disse-me o escritor britânico Robert Lacey, autor de vários livros sobre a Arábia Saudita. “Se o rei dá uma pilha de papéis para ele ler e agir, o príncipe senta e trabalha, e somente se levanta quando termina com a pilha inteira.”
Adel al Jubeir é somente o segundo saudita não-real a ser nomeado para o posto de ministro de Relações Exteriores. Com 53 anos, ele trabalhou por muitos anos na embaixada saudita em Washington antes de ser nomeado para a Corte Real em 2005 como um conselheiro, e depois como embaixador para os EUA em 2007. Visto sempre ao lado do rei Abdullah, sendo seu tradutor nos encontros com líderes americanos, Jubeir vai ajudar muito na articulação das relações com Washington. O príncipe Saud al-Faisal deixa seu posto depois de 40 anos, o mais longo período de um ministro de Relações Exteriores no mundo. Ele sofre de problemas de coluna e queria deixar o cargo há muitos anos. No entanto, vai ficar perto, nos bastidores, como conselheiro do rei e ministro de Estado supervisionando as relações estrangeiras.
Com certeza, estamos vendo uma nova fase na governança da Arábia Saudita, que muitos sauditas nunca viram antes, de ações mais ousadas e rápidas. A intervenção no Iêmen foi o primeiro tiro. Uma intervenção com uma força árabe na Síria para acabar com a guerra civil e o regime de Bashar al-Assad está nos planos também, de acordo com analistas. Todas essas movimentações são arriscadas, mas a nova geração de líderes sauditas está impaciente para se afirmar. É uma aposta ousada, mas vista como muito válida por muitos sauditas.
http://oglobo.globo.com/opiniao/uma-mudanca-geracional-na-arabia-saudita-16028495#ixzz3bxZfpi7n
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