Mulheres muçulmanas e aliados deram as mãos na ponte de Westminster no dia 26 de março, 2017, para protestar o ataque de Khalid Massod no dia 22 contra pedestres na ponte e perto do Parlamento em Londres.
Esta coluna foi publicada no O Globo de 31/03/2017:
Mesquitas em todo o Reino Unido rezaram pelas almas das vítimas na sexta-feira depois do ataque
Por Rasheed Abou-Alsamh
O ataque terrorista de Khalid Masood no dia 22 de março, em Londres, só durou seis minutos. Começou às 14h40m, quando ele jogou o utilitário que dirigia em cima da calçada da Ponte de Westminster sobre o Rio Tâmisa. Atropelou pelo menos 20 pedestres, deixando as vítimas em agonia no chão, e uma mulher jogada rio abaixo.
Masood continuou dirigindo em alta velocidade em direção ao Parlamento britânico, batendo numa mureta. Quando lá chegou, parou e saiu do carro com duas facas nas mãos e entrou numa entrada privativa, usada apenas pelos parlamentares. Um policial desarmado — a maioria dos policiais britânicos anda sem arma de fogo — o desafiou, ordenando-lhe que parasse. Masood lhe deu diversas facadas. Outros policiais ouviram o tumulto e entraram em ação, gritando para o terrorista parar. Ele não parou, e os policiais atiraram nele várias vezes. Eram 14h46m. O inglês, filho de mãe branca e pai negro, ainda agonizou por alguns minutos, mas morreu antes de ser levado para um hospital. No total, ele matou quatro pessoas e feriu 50.
Nestes seis minutos de terror e violência sem sentido, Masood fez mais mal ao Islã e aos muçulmanos do que muitas outras pessoas. Pelos relatos que já saíram na imprensa britânica, ele era um homem infeliz e com problemas mentais. De pele morena, se queixava do racismo no pequeno vilarejo em que morava. Era violento, tendo ao longo dos anos atacado várias pessoas à faca. Isso lhe rendeu duas detenções em prisões inglesas. Inicialmente, especulou-se que Masood, que nasceu cristão e com o nome de Adrian Elms, fora convertido ao Islã e se radicalizara na prisão em 2003. Mas a Polícia Metropolitana de Londres, Scotland Yard, desmentiu sua radicalização, informando que não havia provas disso.
Em todo caso, Masood trabalhou duas vezes na Arábia Saudita (em 2005-2006 e 2008-2009), ensinando inglês aos técnicos da Autoridade Geral da Aviação Civil da Arábia Saudita (Gaca, na sigla em inglês). Com certeza, a Gaca não é nenhum antro de radicais islamitas. As agências de segurança sauditas disseram que Masood nunca entrou no radar deles quando trabalhou no reino.
Mas isso não impediu inúmeros jornalistas ocidentais de se agarrarem ao fato de Masood ter trabalhado na Arábia Saudita como prova inegável de que ele se radicalizara lá. “Mais uma prova de que os sauditas exportam o terror!”, bradavam as reportagens. “Mas será que foi isso mesmo?”, eu me perguntei.
Lendo mais depoimentos de pessoas que o conheciam, vê-se outra imagem. Segundo eles, Masood não era muito religioso e não frequentava uma mesquita com regularidade. A proprietária da casa onde Masood morou por um tempo com outras pessoas disse ao jornal “Independent” que ele levava prostitutas ao imóvel, bebia muito e consumia cocaína e ecstasy. “Ele era um homem louco. Depois de uma sessão de crack que durou quatro dias, um amigo dele, também drogado, o acusou de ser um policial à paisana. Adrian ficou absolutamente louco e correu para a cozinha, onde pegou uma faca e cortou o rosto do amigo em pedaços. Foi horrível, mas ele sempre teve esse lado mais sombrio,” disse ela ao jornal.
O grupo terrorista Estado Islâmico (EI), como sempre, correu para reivindicar a responsabilidade do ataque de Masood. Onde há desgraça parece que tem o EI por trás. Mas de novo a polícia de Londres desmentiu isso, dizendo que, depois de entrevistar várias pessoas e investigar os pertences do terrorista, não acharam qualquer ligação com o EI.
A comunidade muçulmana britânica reagiu com constrangimento, tristeza e comoção ao atentado. Mesquitas em todo o Reino Unido rezaram pela as almas das vítimas na sexta-feira, depois do ataque, e mulheres muçulmanas fizeram uma vigília no dia 26 formando um cordão humano na Ponte de Westminster para mostrar solidariedade às vítimas e enfatizar o lado pacifico do Islã. “Aquele homem queria nos dividir, então unindo as mãos estamos fazendo literalmente o oposto do que ele queria. Isso é Londres, e ele não vai nos mudar,” disse Kerena Sheath, uma participante do ato, ao jornal “The Guardian”.
Infelizmente, a direita em geral usou esse ataque para acusar e generalizar dizendo que foi mais um ato criminoso e sangrento vindo do radicalismo islamita. Qualquer pessoa educada que lê sobre o Islã sabe que essa religião é de paz e coexistência. O ato de um louco e desequilibrado não pode manchar a reputação de uma religião inteira.
O EI está explorando um vazio na alma de criminosos de ascendência muçulmana na Europa, dando-lhes atenção e prometendo-lhes uma recompensa esplêndida na vida após a morte pelos atos violentos cometidos por eles contra estados e cidadãos europeus. Não tem nada de islâmico nos pensamentos, ideias e atos desses seguidores do EI. Matar inocentes é proibido no Islã, como é também no cristianismo e no judaísmo. Não acreditem na propaganda da direita, que quer começar uma guerra sectária entre o Ocidente e o mundo islâmico.
http://oglobo.globo.com/opiniao/o-isla-nao-terrorismo-21138501#ixzz4eW56ypmv
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