Donald Trump em Dubai no campo de golfo que levava seu nome. O nome dele foi removido em dezembro 2015 depois que ele disse que queria controlar a entrada de muçulmanos nos EUA..
Muçulmanos dos EUA precisam ouvir claramente que ele considera americanos de todas as religiões plenos cidadãos
Por Rasheed Abou-Alsamh
A vitória do candidato republicano Donald Trump nas eleições presidenciais americanas deixou a maioria do mundo árabe sem saber exatamente como reagir. De um lado, os países mais capitalistas do Golfo viram com bons olhos a vitória de um homem de negócios bilionário. Mas a aproximação dele com o presidente russo Vladimir Putin os tem deixado nervosos por causa da situação na Síria.
Certamente, os países do Golfo apostaram na candidata democrata Hillary Clinton, com os sauditas dando dinheiro no passado para a Fundação Clinton. A reputação de durona que Hillary tem, de ser muito mais intervencionista no Oriente Médio do que o atual presidente Barack Obama, agradou aos líderes do Golfo. A candidata deixou claro que apoiava zonas de exclusão aérea sobre partes da Síria para proteger refugiados e ajudar os rebeldes que lutam para derrubar a ditadura de Bashar al-Assad. Isso foi visto por alguns americanos como uma estratégia muito arriscada, que poderia arrastar a região inteira para uma grande guerra se a Rússia e o Irã reagissem mal às zonas de exclusão aérea.
Mas Hillary perdeu a eleição, e agora os países árabes vão ter que lidar com um Trump que, curiosamente, talvez vá parecer muito com Obama em termos de continuar as políticas de semi-isolamento dos Estados Unidos no cenário mundial. Trump já disse que apoia a luta do regime de Assad e dos russos contra o grupo terrorista Estado Islâmico, ou Daesh em árabe. Isso foi uma grande decepção para os países do Golfo que têm apoiado os rebeldes sírios com armamento e dinheiro. Os sauditas têm amenizado suas críticas aos russos em público, tendo cuidado para não ofendê-los. Mas uma vitória decisiva de Assad e os russos contra os rebeldes deixaria as relações da Rússia com os países do Golfo num estado muito debilitado e frágil.
O pronunciamento de Trump que mais alarmou todos os árabes foi quando ele disse que queria que todos os muçulmanos que entram e moram nos Estados Unidos sejam registrados pelo governo americano. Isso trouxe à tona imagens dos campos de internação forçada que foram introduzidos nos EUA durante a Segunda Guerra Mundial para americanos de origem japonesa. Ao contrario dos recuos que Trump já fez sobre suas declarações bombásticas na campanha eleitoral, como a de não querer mais processar Hillary, o presidente eleito ainda não amenizou suas intenções em relação aos muçulmanos. O presidente George W. Bush introduziu um sistema depois dos atentados de 11 de setembro de 2001 em que o governo federal registrava cidadãos de países suspeitos. Mas críticos disseram que isso não ajudou a fazer o país mais seguro, destruindo as relações com a comunidade muçulmana americana, que poderia ter colaborado muito mais com as autoridades.
Os nomes de pessoas da extrema-direita que Trump já anunciou para ocupar cargos importantes em sua administração deixam qualquer liberal de cabelo em pé. Isso é muito preocupante para os muçulmanos dos Estados Unidos, que precisam ouvir claramente de Trump que ele considera americanos de todas as religiões como pleno cidadãos, que serão protegidos por ele e por seu governo.
Mas isso é o problema essencial de Trump até agora. Na campanha eleitoral, ele abusou de declarações surpreendentes para apelar aos americanos mais direitistas e, de certo modo, isso funcionou, apesar de ele mesmo ter se caracterizado no passado como um liberal de Nova York. Felizmente, ele está amenizando suas posições depois de ganhar a eleição e sentir o peso da responsabilidade que isso implica. Tomara que ele suavize sua posição em relação aos muçulmanos nos Estados Unidos. E, com certeza, países muçulmanos vão pressioná-lo a ter uma política mais amigável com os muçulmanos.
No que diz respeito aos negócios, Trump certamente vai causar ondas de descontentamento com seu protecionismo e a declaração de que pretende tirar os EUA do Pacto do Pacífico e impor barreiras comerciais contra produtos da China e do México. Mas ele mantém boas relações comerciais com os países do Golfo, com vários investimentos em hotéis e prédios na Arábia Saudita e nos Emirados Árabes.
Num lado mais leve, a imprensa local já está com dificuldade de escrever o nome de Trump corretamente em árabe, já que o idioma não tem o fonema “P”. Então Pepsi é pronunciado “Bebsi” em árabe, e Trump tem sido pronunciado “Tramb” ou “Troomb”. De qualquer maneira, ele vai ter um trabalho duro de manter relações amigáveis e estáveis com o mundo árabe nos seus quatro anos no cargo e ajudar a achar soluções para os conflitos na Síria, no Iraque e na Líbia.
Rasheed Abou-Alsamh é jornalista
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