Misseis balísticos iranianos Shahab-2 de longa distancia.
Esta coluna foi publicada no O Globo de 17/02/2017:
Talvez o aspecto mais preocupante da agressividade iraniana seja programa de mísseis, não coberto por acordo nuclear
Por Rasheed Abou-Alsamh
O acordo nuclear assinado com o Irã em 2015 — restringindo a quantidade de urânio que o país poderia enriquecer pelos próximos dez anos, e dando a inspetores internacionais acesso regular às suas instalações de energia nuclear — deixou o mundo um pouco relaxado demais.
Mas não se enganem. O Irã ainda tem pretensões de continuar a projetar seu poder e influência em todo o Oriente Médio. Do treinamento, em seu território, de soldados xiitas de vários países para lutar na Síria, no Iraque e no Afeganistão aos provocativos lançamentos de mísseis e passando pelo assédio às forças navais americanas no Golfo Pérsico, os iranianos estão longe de serem um vizinho bonzinho e pacífico.
O Conselho Nacional de Resistência do Irã (NCRI, na sigla em inglês), um grupo de oposição, anunciou anteontem que o governo criou 14 campos de treinamento no país para a Força Quds do Exército dos Guardiães da Revolução Islâmica do Irã, cujo papel principal é organizar, treinar, equipar e financiar movimentos revolucionários islâmicos estrangeiros. Segundo o NCRI, o líder supremo Ali Khamenei aprovou o estabelecimento desses campos onde forças de Iraque, Síria, Iêmen, Afeganistão e Líbano recebem treinamento militar. Em seguida, essas tropas são enviadas para lutar em outras nações da região. Para países onde não há uma guerra declarada, inclusive nações do Golfo, como o Kuwait e Bahrein, células de terroristas são treinadas. De acordo com a NCRI, somente um desses campos de treinamento está mandando dois mil afegãos toda semana para lutar na Síria.
Esses números podem parecer exagerados, mas, com certeza, há milhares de integrantes da Força Quds na Síria desde 2012, ajudando o regime de Bashar al-Assad na sua sangrenta guerra civil contra os rebeldes.
No Golfo Pérsico, os iranianos continuam a acossar as forças marítimas dos EUA, indo em cima de navios americanos e por pouco não batendo neles. O último incidente foi no Estreito de Ormuz, em janeiro, quando três navios americanos tiveram que disparar tiros de aviso contra navios iranianos que vinham em sua direção. Os iranianos chegaram a 800 metros dos americanos antes de se desviar.
Mas talvez o aspecto mais preocupante da agressividade iraniana seja seu programa de mísseis, que não é coberto pelo acordo nuclear. O lançamento de um míssil balístico no dia 29 de janeiro fez o presidente americano, Donald Trump, anunciar no dia 3 de fevereiro sanções contra autoridades e empresas iranianas. Os americanos acreditam que esse programa de desenvolvimento de mísseis viola o espírito do acordo nuclear e da Resolução 1.929 do Conselho de Segurança da ONU, que proíbe o Irã de qualquer atividade ligada a mísseis balísticos capazes de carregar armas nucleares. O Brasil e a Turquia votaram contra essa resolução em 2010.
Segundo o jornalista Ed Blanche, estima-se que o Irã tenha mais de mil mísseis balísticos de curta distância, centenas de mísseis de média distância, e um número desconhecido de mísseis de cruzeiro. Calcula-se ainda que os iranianos estejam construindo mais de 50 mísseis balísticos de média distância por ano. Em 15 a 20 anos, isso poderá triplicar o arsenal iraniano, ameaçando e dominando os sistemas de defesa antimísseis dos países do Golfo.
No passado, os iranianos insistiram em que não estavam interessados em desenvolver mísseis balísticos intercontinentais, capazes de atingir alvos a cinco mil quilômetros de distância. Blanche escreve que, em 2011, Teerã anunciou que ia pôr um limite de dois mil quilômetros no alcance de seus mísseis de superfície a superfície, o bastante para atingir Israel. Para atingir a Costa Leste dos EUA, precisaria de um míssil com alcance de dez mil quilômetros. Mas, em 2014, o general de brigada Amir Ali Hajizadeh, da força espacial do Exército dos Guardiães da Revolução, disse que o Irã não tinha parado nos dois mil quilômetros e continuara a desenvolver mísseis de alcance maiores “sem limitações.”
Blanche diz que, em 2014, a Agência Internacional de Energia Nuclear descobriu que o Irã tinha feito experimentos com tecnologia de implosão, o que é necessário para produzir uma arma nuclear avançada. A agência também disse que o país tinha planos para produzir ogivas nucleares para serem transportadas pelos seus mísseis balísticos.
De acordo com o jornalista, a compulsão iraniana em construir uma força maciça de mísseis balísticos vem da guerra que travou com o Iraque (1980-1988), quando cidades iranianas foram constantemente atingidas pelos mísseis Scud vindos do Iraque. Tais ataques mataram milhares de civis iranianos, levando seus líderes a tentar evitar que isso se repetisse. Por isso, eles querem uma força de dissuasão estratégica. Vale lembrar que foi o Iraque liderado por Saddam Hussein que começou a guerra com o Irã.
De qualquer forma, o Irã já deve estar avisado de que o governo Trump não vai ficar de braços cruzados, como fez o de Barack Obama, enquanto os iranianos ameaçam seus vizinhos e continuam a exportar sua versão de uma revolução islâmica.
Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/opiniao/intencoes-iranianas-no-oriente-medio-preocupam-20939563#ixzz4ZWLyA3Py
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