Os lideres do CCG reunidos na capital saudita Riad no dia 14 de maio, 2012.
Essa coluna foi publicada no O Globo de 18 de maio, 2012. Clique aqui para ver um PDF da pagina: O Globo May18, 2012
Rasheed Abou-Alsamh
NA noite da segunda feira passada, muitas pessoas nos seis países que formam o Conselho de Cooperação do Golfo (Arábia Saudita, o Kuwait, o Bahrein, o Catar, Emirados Unidos Árabes e o Omã) esperavam ansiosamente o final da reunião de cúpula dos seus lideres na capital saudita de Riad. Eles queriam saber se uma união desses países ia adiante ou não, começando com uma associação entre o reino saudita e o Bahrein. Naquela mesma noite, o ministro de assuntos estrangeiros saudita, o príncipe Saud al-Faisal, anunciou que qualquer decisão sobre uma união foi adiada até a próxima reunião em dezembro.
A proposta de formar uma união dos seis países membros do CCG veio do rei Abdullah da Arábia Saudita em dezembro do ano passado. Imediatamente cidadãos do Bahrein, o pequeno estado-ilha, para o qual a Arábia Saudita e outros países do CCG mandaram uma força militar de 1.500 soldados em março de 2011 — para ajudar a família real Al-Khalifa a conter uma rebelião popular da maioria xiita — começaram a reclamar na internet: “Será que nossas mulheres vão ter que se cobrir como na Arábia Saudita?”, foi uma das perguntas.
Esse receio de perder as características sociais e políticas únicas de cada um dos países do Golfo foi a razão desse pânico na internet e em artigos de jornais vindo de todos os países membros do CCG. “Me juntarei à oposição contra a união do Golfo se isso força o Kuwait a abandonar seu sistema de eleições parlamentares e o conceito de participação política somente para agradar a Arábia Saudita, os EAU e o Oman,” escreveu o saudita Abdul Rahman Al-Rashid, diretor geral do canal de televisão Al-Arabiya, num artigo no jornal “Arab News” essa semana.
Esse pânico foi causado, como de costume nessa parte do mundo, pela falta de detalhes e transparência na parte dos lideres políticos. A Arábia Saudita por causa de seu tamanho geográfico extenso, e por ter a maior população e PIB dos seis membros do conselho, sempre causou um certo receio e medo nos seus vizinhos mais pequenos. Ao longo dos anos, a Arábia Saudita teve conflitos fronteiriços com praticamente todos os seus vizinhos, sobretudo com o Catar e os Emirados Árabes Unidos.
Esses receios forçaram o príncipe Saud al-Faisal a dizer que “não houve nenhuma medida para ter uma relação especial entre Bahrein e a Arábia Saudita, embora os dois países iam dar as boas-vindas para uma associação mais próxima.”
Mas parece que nem os oficias da conselho sabiam ao certo o que uma união implicaria. “Para os cidadãos se beneficiar do poder coletivo de suas economias e poder estratégico, esses países tem que entrar em uma estrutura mais coesiva que poderia traduzir seus recursos naturais em um peso estratégico para negociar em pé de igualdade com outros jogadores no cenário mundial,” disse o vice-secretário general do conselho, Abdul Aziz Aluwaisheg, num artigo. Mas ele não disse como fazer isso.
“Os governos do Conselho de Cooperação do Golfo não deixaram claro ainda o que eles querem dizer com uma união. Vai ser somente um agrupamento de países soberanos como a atual CCG, ou haverá um desejo genuíno de criar instituições supra-nacionais que poderiam superar a soberania de países individuais como se faz na União Européia?”, perguntou a analista Jane Kinninmont, do centro de estudos políticos Chatham House em Londres, numa entrevista comigo.
Muitos críticos do conselho gostam de dizer que esse agrupamento, que foi formado em 1981 em parte em reação à revolução islâmica no Irã em 1979 e à subseqüente guerra entre o Iraque e o Irã, tem tido poucos sucessos. Eles apontam para o fracasso da moeda única que o CCG tinha planejado lançar em 2010, mas teve que adiar, por tempo indefinido, depois que o Emirados Árabes Unidos, Omã e Kuwait se recusaram a fazer parte da moeda.
Mesmo assim, o conselho teve muitos sucessos — o maior foi o crescimento enorme do comércio entre os membros e o direito de todos os cidadãos de cada país poder visitar, viver e trabalhar em qualquer um dos seis países sem ter que conseguir um visto ou permissão oficial. De acordo com dados do CCG, o PIB total de todos eles em 1981 era de US$200 bilhões. Hoje o PIB total deles é de US$1.5 trilhões. E vão triplicar isso antes do fim dessa década. O comércio entre os seis países já atingiu US$100 bilhões ao ano, e está crescendo a uma taxa acima de 20% ao ano.
Não se duvida que uma grande parte da motivação para o anúncio agora de uma união é a ameaça iraniana que preocupa esses seis países governados por realezas todas sunitas. A professora saudita em Londres, Madawi al-Rasheed, acha que esse impulso para uma união agora é uma reação aos levantes no mundo árabe, que ameaçam a continuidade no poder dessas famílias reais na região. “A união é uma resposta improvisada para problemas profundas que as famílias regentes não estão dispostos a resolver: como dar mais poder para suas sociedades, aumentar a participação política e melhorar o estado de direitos humanos,” ela me disse em uma entrevista.
Eu prefiro ver a proposta de uma união em termos mais positivos. Eu não acho que a Arábia Saudita queira acabar com as liberdades sócias e políticas que são encontrados em alguns dos países do Golfo. A união, acho, seguiria o molde da União Europeia, onde países preservariam sua soberania em quase todas as áreas, mas cederiam soberania em assuntos de comércio exterior e defesa. Unidos,os seis países seriam muito mais fortes e iam economizar muito dinheiro gasto na duplicação de esforço em, por exemplo, comprar armas dos Estados Unidos. Mas, para isso, é preciso confiança e respeito mútuo, algo que acho difícil de acontecer.
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